Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Há aqui em Brasília alguns micro-ônibus (ou seriam microônibus? ou microhônibus?) que são popularmente conhecidos como zebrinhas. E chamam-se assim porque são vermelhos com listras brancas – eu sei que as zebras não têm essas cores, mas a semelhança está nas listras. E como são ônibus pequenos, levam ainda o diminutivo no nome: zebrinhas. Não sei se é o nome oficial, mas é assim que são chamadas.
Existem ainda outras particularidades. Por exemplo: não existem cobradores nas zebrinhas. Até porque, elas são tão pequenas que não haveria espaço para eles. Quem recebe o dinheiro da passagem é o próprio motorista – que frequentemente se vê obrigado a dar o troco enquanto dirige, facilitando acidentes.
Depois de pagar, podemos passar pela catraca e nos acomodar num dos bancos. É nessa hora que percebi, mais de uma vez, pessoas olhando intrigadas para o final do ônibus. Isso porque elas se deram conta de que não há outra porta. A única porta de uma zebrinha é a de entrada. Na hora de sair, é preciso passar pela catraca novamente, agora para o outro lado. É comum que as pessoas estejam querendo sair justamente no momento em que outras estão querendo entrar. Mas, de um jeito ou de outro, elas conseguem se entender.
Algumas pessoas sequer chegam a passar para o lado de lá da catraca. Quando entram, elas percebem que já não há mais lugares vagos, e então ficam por lá mesmo, na parte da frente do ônibus. O motorista deixa, mas desde que todos virem a catraca – é preciso registrar que fizeram a viagem, afinal.
Obrigado, motorista!
Mas não é apenas no nome e no tamanho que a zebrinha é simpática: as pessoas também se tornam mais acessíveis dentro dela. Isso fica claro no momento de descer do ônibus, quando boa parte delas – muita gente mesmo! – decide agradecer ao motorista. Alguns vão ainda mais além e também desejam a ele um ótimo dia de trabalho. E quem faz isso são pessoas que, afinal, pagaram para receber aquilo que o motorista está oferecendo – e o motorista, convenhamos, não está oferecendo nada além do que esperamos dele. Pois ainda assim, os passageiros sentem vontade de agradecer e dizer alguma coisa simpática ao motorista. E realmente dizem. “Obrigado, viu? Tenha um bom dia”. Eu mesmo, que sou a fobia social em pessoa, já me vi falando coisas semelhantes ao saltar do ônibus.
E graças a essa intimidade, por vezes o passageiro nem puxa a cordinha para descer – é preciso dizer que as zebrinhas ainda têm cordinhas. O passageiro vai logo passando de novo pela catraca e fica parado ao lado do motorista, que então pergunta: “È nesse mesmo?”, querendo saber em qual parada a pessoa irá descer. Ela confirma que é na próxima, e agradece, enquanto o motorista retribui com outra simpatia.
Está claro que não é isso que acontece nos outros ônibus – aqueles com tamanho normal, com cobrador e com mais de uma porta. Curitiba tem um sistema de transporte coletivo muito mais evoluído do que Brasília, mas nem por isso costumam acontecer episódios como esses por lá também. Imagino que nem em São Bento. Na verdade, não é o que acontece na maior parte dos lugares: a simpatia, quando acontece, é sempre inesperada. É sempre uma zebra.