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No Mundo da Lua - Sônia Pillon


Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul. 

Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa,  no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.   

É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.

Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).

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José nunca foi um trapo!


Não! Definitivamente, José nunca foi um trapo! O século 20 nem havia dado as caras quando José nasceu, naquela cidadezinha bucólica de águas límpidas. Isolado, longe dos confortos da capital, praticamente sem infraestrutura, era um lugar bastante aprazível para passar as férias, ou um final de semana. Mas para os que lá viviam, especialmente aqueles que pertenciam a famílias numerosas, havia muito a trabalhar e pouco a desfrutar.

E foi nessa condição que nasceu o menino José. De baixa estatura, com sonhadores olhos azuis, desde cedo conheceu as agruras da vida. Pequeno ainda perdeu o pai, que era músico de banda alemã e se afogou no rio, após voltar de uma apresentação em um baile típico. A bebida o arruinou, apesar do bondoso coração.

Sozinha e com filhos pequenos para criar, José viu sua mãe se casar de novo tempos depois. Certa vez ele me contou, relutante, que o padrasto era um homem de má índole, que batia nos enteados por motivos banais.

A infância sofrida poderia ter transformado José em um revoltado, desses que a gente encontra todos os dias nas páginas dos jornais, que devolvem violência com violência. Mas isso não aconteceu. Pelo contrário. Ele se tornou um homem de alma dócil, que se solidarizava com a dor e a injustiça alheias. José era um homem de paz.

Escolheu a marcenaria como ofício e se casou aos 28 anos com uma imigrante alemã, a quem sempre amou e respeitou. Tentaram ter filhos, mas o destino impediu que a esposa procriasse. Então adotaram um menino e uma menina.

Viviam em uma casa modesta e levavam uma vida sem luxos, dentro do que um orçamento apertado de marceneiro permitia. A esposa de José era prendada, de forno e fogão. Exímia doceira, também dominava as artes do tricô, bordado e crochê. Ela comprava a revista alemã de costura “Burda” e sempre sonhou com uma vida melhor. Era uma dona de casa dedicada, mas “seca” com a família. Mas José era um homem de paz e aceitava o jeito dela sem reclamar.

No trabalho, José era dedicado. Continuou trabalhando mesmo após se aposentar. Queria fazer agrados à mulher e era dedicado aos netos. Gostava da vida simples. Era um homem de paz.

Um dia, ao visitar a irmã da esposa, uma mulher materialista e ferina, admitiu que a singeleza das coisas o fazia feliz.

- Nunca tive ambição, admitiu ele.

- Olha, José, para mim, um homem que não tem ambição é um trapo, viu? Um trapo!, repetiu a cunhada.

José abaixou a cabeça e nada falou. A esposa, ao invés de apoiá-lo, concordou com a irmã. Dava para sentir que aquelas palavras o magoaram muito. Tempos depois, José faleceu de câncer.

Mas eu digo aqui para vocês, sem medo de errar: José nunca foi um trapo! Era um homem honesto, digno, um daqueles seres raros em que se pode confiar. Tinha qualidades de sobra para serem enaltecidas.

Sim, os bens materiais não o atraíam, mas era um homem de bem, e sinto gratidão por ter convivido com ele. Foi uma inspiração de vida para mim. Definitivamente, José nunca foi um trapo! José era um homem de paz.

 



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