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Estrada Dona Francisca passa por processo de tombamento histórico

Quinta, 21 de junho de 2018

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 Rio Negrinho mantém um dos poucos pontos originais da histórica Estrada Imperial Dona Francisca, a “Franciscastrasse”, cuja construção iniciou 1858 sob ordens do então governo imperial. A via foi a responsável em levar o desenvolvimento ao Planalto Norte, já que fazia a ligação do alto da serra à região de Joinville. Para tornar-se carroçável, foi toda macadamizada e, é justamente este macadame original que ainda é possível observar em Rio Negrinho.

Agora, a Fundação Municipal de Cultura deu início ao processo de tombamento histórico da estrada, em apoio às propostas apresentadas pela Academia de Letras do Brasil em Santa Catarina Seccional Rio Negrinho e Associação dos Historiadores. “Na semana passada, após o prefeito Julio Ronconi encaminhar à Fundação Municipal de Cultura o manifesto da Academia de Letras e da Associação dos Historiadores, pesquisamos junto ao Consórcio Quiriri referente a uma proposta que já havia sido encaminhada ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). No entanto, o direcionamento do IPHAN foi para que o Consórcio buscasse outra via legal. O objetivo agora é trabalhar com essa proposta de tombamento do trecho que inicia em Joinville, passa por Campo Alegre, São Bento do Sul e Rio Negrinho”, ressalta Adilson Figueiredo, presidente da FUndação Municipal de Cultura.

Conforme Adilson, ele esteve em Florianópolis no setor de patrimônio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) para apresentar a proposta do município, solicitar maiores informações, bem como levar a intenção do tombo estadual de todo o trecho. “Compreendemos que a região irá se destacar com a preservação da estrada imperial Dona Francisca de Joinville a Rio Negrinho”, explica.

O presidente ainda conta que em breve um técnico da FCC estará em Rio Negrinho para uma reunião entre todos os interessados pelo tombamento da Dona Francisca. “A cada passo dado, faremos o repasse das informações para que a comunidade fique por dentro do assunto. Preservar o patrimônio cultural é cuidar da nossa identidade”, arremata Adilson.

 

Trabalho intenso

Desde o ano passado, a Fundação de Cultura de Rio Negrinho vem dialogando com pessoas ligadas a área de patrimônio para que uma ação coletiva aconteça entre o poder público e sociedade. “Demarcado os pontos turísticos através do mapa atualizado pelo Núcleo de Turismo da Acirne em conjunto com a Coordenação de Turismo da Prefeitura, a Cultura vem fazendo um forte trabalho para potencializar esses pontos turísticos aumentando o interesse do visitante pela história local”, explica Adilson Figueiredo.

Segundo ele, em se tratando dos atos de preservação, a Fundação vem fazendo um levantamento de bens e imóveis de natureza material e imaterial, conforme a lei 1447/2002 que dispõe sobre a preservação do patrimônio natural e cultural do município. Uma solicitação de tombamento deve apresentar o valor histórico do objeto, bem como: turístico, artístico, ecológico, bibliográfico, documental, religioso, folclórico, etnográfico, arqueológico, paleontológico, paisagístico e científico. “É bastante ampliado o campo de ação patrimonial”, afirma.

Todo esse levantamento demanda pesquisa e equipe, então, para que haja uma rapidez e consistência no levantamento dos dados, parcerias estão sendo realizadas com pessoas e associações. “Inclusive haverá a participação do Conselho Municipal de Política Cultural nos atos de tombamento para validar o processo. Agora que os membros foram empossados, começa o trabalho das setoriais e já na primeira reunião será apresentado o manifesto que solicita o tombo da estrada imperial Dona Francisca”, informa o presidente da Fundação de Cultura.

 

História

Ao abrir a Estrada da Serra, a meta era ligar o litoral do município de São Francisco do Sul e a colônia Dona Francisca com o planalto de Curitiba. Isto interessava não só à comunidade local, como também, ao governo Imperial, que, em 1858, custeava os trabalhos com subvenções mensais. A obra de vulto, que nascera como uma iniciativa particular, passou a ser um empreendimento imperial.

O traçado da Estrada da Serra foi definido pelo engenheiro e agrimensor Carl August Wunderwald, que se embrenhou pela mata atlântica em duas excursões realizadas anos antes. Caminhou pela região que compreendia o vale do rio Cubatão, Rio da Prata a Rio Seco e detectou os melhores locais para a abertura do novo caminho.

Elevado ao posto de diretor da Colônia em 1858 Léonce Aubé assumiu a administração dos trabalhos e deu início à construção de uma das mais valiosas obras da Joinville daqueles dias. Carlos Ficker, no livro "História de Joinville - Crônica da Colônia Dona Francisca" reproduz as instruções que deveriam ser observadas na construção da nova estrada: "1º - a estrada terá 30 palmos de largura, contados entre as arestas das valetas laterais; 2º - as valetas serão abertas de ambos os lados da estrada, sendo em planície e em morros somente do lado de cima destes e terão cinco palmos de largura e três ditos de profundidade". No total, eram 17 itens, que descrevem minuciosamente como deveria ser a "Franciscastrasse".

A Província do Paraná temia que o escoamento da produção pela Estrada Dona Francisca diminuísse a movimentação de riquezas em Paranaguá, Morretes e na Estrada Graciosa devido ao escoamento direto até São Francisco do Sul. Por isso, não apoiava o novo empreendimento e tentava, nos gabinetes imperiais, fazer com o que o ponto de chegada não fosse Rio Negro (como havia sido estabelecido), mas Curitiba.

Com a definição por Rio Negro, Paraná fez mais uma jogada, transferindo para a estrada - no meio da mata - um ponto de coleta fiscal. O problema é que o posto ficava em área catarinense e o governo da província de Santa Catarina não tardou a reagir. Enquanto cada lado procurava defender seus interesses, o governo imperial decidiu suspender os pagamentos das obras, alegando, erroneamente, que o ponto final ainda não estava definido. Na prática, tanto a comunidade do Paraná quanto a de Santa Catarina saíam perdendo.

Outro episódio envolvendo as duas províncias foi pelo domínio de terras entre Rio Negro e a Serra Geral. Enquanto a Sociedade Colonizadora enviava colonos para lotes demarcados naquela região, o Paraná vendia os mesmos lotes com títulos provisórios de propriedade a famílias interessadas. O conflito ficou conhecido como "questão de limites" e que deixou a região do planalto em "pé-de-guerra".

Em 1869, durante todo o ano as obras na Estrada da Serra ficaram paradas por falta de verbas. No início da década seguinte , cerca de 30 quilômetros da Estrada estavam concluídos e o traçado iniciava no centro de Joinville, passava por Pirabeiraba e atingia a região do Alto da Serra. Daí por diante até Rio Negro, havia apenas uma picada, que em dias de chuva ficava intransitável. Ainda levaria outras décadas para que a "Franciscastrasse" fosse concluída.

A construção da estrada Dona Francisca deu novo impulso à Colônia. Com as obras foi possível dar serviço e remuneração aos imigrantes. Centenas de colonos estavam estabelecidos na região e encontraram nos trabalhos de construção o único meio de terem dinheiro na mão. A atividade comercial, de indústria e a agricultura floresceriam somente depois com a abertura do novo caminho.

Com o acesso, deu início o comércio de erva-mate e de madeira que descia a serra em busca da Colônia. Na volta por São Bento, os carroceiros passavam carregados, trazendo produtos para suas casas. Os carroções com toldo de lona, puxados por seis ou oito cavalos, eram chamados de "carroções de São Bento" ou "São Bentowagen" e ainda hoje estão presentes na memória dos moradores mais antigos.

A Rua Dona Francisca começa no centro de Joinville e atravessa a cidade em direção à serra. Além do perímetro urbano, corta também o distrito industrial, o distrito de Pirabeiraba, a BR-101 e segue até o município de Rio Negro, passando por Campo Alegre, São Bento do Sul, Rio Negrinho e Mafra. A rua passou a ser chamada de Estrada Dona Francisca a partir da BR-101 e presenteia os viajantes e moradores com a exuberância da mata atlântica que cobre toda a região.

Em 1865 o primeiro grupo de viajantes vindos de Curitiba descia pela estrada e era recebido com festa na colônia Dona Francisca. No dia seguinte, um outro grupo chegava trazendo um carregamento de erva-mate e retornava levando couro curtido do curtume de Jacob Richlin, sinalizando o início do comércio entre as localidades e antecipando o ciclo que iria se tornar um dos mais importantes na história econômica da região, o da erva-mate.

Na época, a colônia Dona Francisca contava com cerca de dois mil habitantes e, embora já despontassem estabelecimentos comerciais e prestadores de serviço da própria comunidade atendessem a população, a agricultura ainda era a principal atividade dos imigrantes europeus que continuavam chegando ao lugarejo.



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