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José Kormann, Dr (A História da Câmara de São Bento do Sul - No Contexto do Brasil)


Dr. José Kormann (A História da Câmara de São Bento do Sul)

Historiador



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Capítulo VIII A CÂMARA NA PRIMEIRA REPÚBLICA POPULISTA 31/01/1956 A 31/03/1964

Quarta, 19 de agosto de 2015

 

 

O que é República Populista?

É aquela na qual os coronéis das fazendas, ou mesmo urbanos, ou as forças armadas perderam o seu poder político que passou para os sindicatos e outras organizações populares. Os candidatos favoritos do povo são, nessas épocas, aqueles que procuram agradar a populaça por seu jeito de ser, de se apresentar, de falar, de se vestir e, até mesmo, de comer como alguns o faziam e o sabiam fazer muito bem. Eram candidatos que apresentavam programas de governo que o povo admira, quer e deseja, embora nem sempre sejam os melhores e geralmente não o são, ou são até mesmo são impossíveis de realizar. Contudo, seus programas servem muito bem para se eleger e se manter no poder, mas quando isso não funciona para seu objetivo facilmente viram ditaduras, às vezes as mais ferrenhas e cruéis.

Nesta Primeira República Populista o populismo ainda não foi tão evidente quanto na segunda, mas já houve nítidos sinais de sua existência especialmente em alguns de seus representantes com em Getúlio Vargas e Jânio Quadros.

Em São Bento do Sul, na maioria das vezes, isso não funcionou; nem para a Câmara de Vereadores e nem para a eleição dos prefeitos. Houve, contudo, poucas exceções para o Executivo e sempre mais facilmente para alguns elementos por entre o Legislativo Municipal. Aí, em São Bento do Sul, sempre houve e ainda há o forte domínio preponderante do coronelismo urbano.

Nesse período houve, em São Bento do Sul, três legislaturas e pouco. São elas:

1 - Eleições em 03 de outubro de 1954 e empossados a 01 de fevereiro de 1955. Foram eleitos os seguintes Vereadores: Carlos Zipperer Sobrinho, Luiz Schiessl,  Ernesto Venera dos Santos, Henrique Schwarz, Olympio Vidal Teixeira, Alfredo Klimmek, Leopoldo Weiss e Otávio Maia.

Durante essa Legislatura ainda assumiram os seguinte suplentes por afastamento de titulares: Afonso Treml, Ervino Grossl, Francisco Kobs, Carlos Ehrl Júnior, Otto Diener Júnior e Kurt Weber.

Durante essa Legislatura houve também três diferentes composições de mesas diretoras, ou seja, assim:

a) – Presidente: Carlos Zipperer Sobrinho; Vice-Presidente: Luiz Schiessl; Secretário: Ernesto Venera dos Santos; 2º Secretário: Henrique Schwarz.

b) – Presidente: Ernesto Venera dos Santos; Vice-Presidente: Octávio Maia; 1º Secretário: Alfredo Klimmek; 2º Secretário: Leopoldo Weiss.

c) – Presidente: Octávio Maia; Vice-Presidente: Leopoldo Weiss; 1º Secretário: Ernesto Venera dos Santos; 2º Secretário: Alfredo Klimmek.

Desse período é interessante notar que no livro intitulado Focalizando Municípios de Santa Catarina publicado em 1957, em São Paulo, se relata à pagina 05 o seguinte:

“É interessante notar que São Bento do Sul impressiona ao primeiro contato, pela limpeza de suas vias públicas. Não temos receio de considera-la uma das mais bem cuidadas de quantas já visitamos no Brasil. Por iniciativa da própria população, existem coletores de lixo a cada cem metros de todas as ruas da cidade”.

2 – Eleições em 03 de outubro de 1958 e empossados no dia 06 de fevereiro de 1959 os seguintes vereadores:  Francisco Paulo Kaesemodel, Olympio Vidal Teixeira, Ernesto Jorge Diener, Emílio Engel, Leo Franz, Osman Gomes Santos e Alfredo Diener.

Durante essa legislatura ainda assumiram os seguintes suplentes por afastamento de titulares: Alfredo Matheus Buschle, Ervino Hübl, Carlos Mühlbauer Sobrinho e Octávio Maia.

E ainda no transcorrer dessa Legislatura houve quatro diferentes composições de mesa diretora dos trabalhos, assim:

I – Presidente: Francisco Paulo Kaesemodel; Vice-Presidente: Olympio Vidal dos Santos; 1º Secretário: Ernesto Jorge Diener; 2º Secretário: Emílio Engel.

II – Presidente: Ernesto Jorge Diener, Vice-Presidente: Olympio Vidal Teixeira; 1º Secretário: Francisco Paulo Kaesemodel; 2º Secretário: Emílio Engel.

III – Presidente: Francisco Paulo Kaesemodel; Vice-Presidente: Olympio Vidal Teixeira; 1º Secretário: Ernesto Jorge Diener; 2º Secretário: Emílio Engel.

IV – Presidente: Francisco Paulo Kaesemodel; Vice-Presidente: Olympio Vidal Teixeira; 1º Secretário: Ernesto Jorge Diener; 2º Secretário: Emílio Engel.

Nesse período aconteceram vários fatos que abalaram a população de São Bento do Sul, e não só ela, mas muito mais. Veja:

Em 1959 aconteceu o acidente de avião em São José dos Pinhais, próximo a Curitiba, que vitimou Antônio Kaesemodel e sua espoa. Ele era empresário muito importante em São Bento do Sul e pessoa de grande destaque social e político; também morreu o Governador de Santa Catarina, Jorge Lacerda; Nereu Ramos, grande político catarinense e ex-Presidente da República, o única de Santa Catarina até agora; e o Deputado Estadual Catarinense, Leoberto Leal. Foi uma comoção para todo São Bento do Sul, mas a Câmara Municipal continuou firme na sua missão de manter a ordem e dar pleno apoio ao Prefeito Carlos Zipperer Sobrinho.

* * *

Em 1961 foi a posse de Alfredo Diener da UDN, pela segunda vez, e também a posse de Jânio Quadros da UDN na Presidência do Brasil. Tudo parecia sorrir, tudo parecia calmo e tranquilo. Jânio havia sido o Presidente mais bem votado de toda História do Brasil, até aquele momento. Seu símbolo era a vassoura e com ela prometia varrer total e completamente toda corrupção: limpar o Brasil de ponta a ponta. A União Democrática Nacional, a UDN encurralava a esquerda e o centro que nunca mais foi do que um penduricalho mamando nas tetas do vencedor.

Mas oh decepção! Jânio reatou as relações com os países comunistas; visitou Cuba onde assistiu a armação de Fidel Castro renunciar e o povo sair “democraticamente” às ruas e pedir sua volta ao poder (Ai de quem não o fizesse); chamou Tche Gevara e o condecorou em Brasília. Era o Jânio eleito pela direita e fazendo, cem por cento, o jogo da esquerda. Preparou seu teatro da renúncia pela qual o povo iria para as ruas pedir a sua volta e, possivelmente, lhe dar o poder absoluto. Renunciou. O povo não foi às ruas, ele perdeu o cargo, a UDN de São Bento do Sul e do Brasil inteiro ficou em má situação e o Brasil à beira de uma guerra civil. Mais uma vez a Câmara unida à Prefeitura controlaram a situação a nível municipal.

3 – Eleições para a Câmara Municipal realizadas a 07 de outubro de 1962 e a posse realizada no dia 05 de fevereiro de 1963. Foram empossados os seguintes vereadores: Darcy Olavo Moldenhauer, Carlos Zipperer Sobrinho, Vitor Vidal dos Santos, Leopoldo Weiss, Ernesto Jorge Diener, Oswaldo Zipperer e Octávio Maia.

Desses vereadores que tomaram posse um deles, Vitor Vidal dos Santos, foi cassado em seu mandato “...por procedimento incompatível com o Decoro Parlamentar.” e três deles renunciaram ao cargo no dia 03 de novembro 1964 levados a esse ato pela situação muito problemática que o Brasil vivia e não era uma situação favorável para ocupar um cargo eletivo, especialmente aos ligados à empresas assim estes o entendiam. Os que renunciaram foram os seguintes: Carlos Zipperer Sobrinho, Leopoldo Weiss e Octávio Maia. Para ocupar os lugares vagos foram chamados os suplentes: Carlos Weiss Sobrinho, João Wenceslau Pscheidt,  João Bento da Luz e Arthur Carlos Pfützenreuter.

Os seguintes suplentes também assumiram pelo afastamento temporário dos titulares: Mieceslau Kaszubowski, Max Fiedler e Rodolfo Denk.

Nessa Legislatura houve as seguintes eleições para a composição de novas mesas diretoras dos trabalhos da Casa Legisladora e que ficaram assim compostas:

A – Presidente: Darcy Olavo Moldenhauer; Vice-Presidente: Carlos Zipperer Sobrinho; 1º Secretário: Vitor Vidal dos Santos; 2º Secretário: Leopoldo Weiss.

B – No dia 04 de fevereiro de 1964 para a constituição da mesa diretora dos trabalhos reelegeram-se as mesmas pessoas para os mesmos cargos, mas depois houve uma cassação de mandato aconteceram três renúncias ao cargo. Para estes cargos vagos foram eleitos: Carlos Weiss Sobrinho, Vice-Presidente; João Wenceslau Pscheidt, 2º Secretário; João Bento da Luz, 1º Secretário.

Vitor Vidal dos Santos foi acusado de no dia 31 de março de 1964, dia máximo da Revolução de 64, ter saído às ruas de São Bento do Sul com a bandeira comunista tentando arregimentar a população em favor dessa causa. Muitas pessoas confirmaram o fato. Foi por isso que ele perdeu o mandato de vereador, mas na justiça obteve absolvição e voltou a ocupar o cargo de vereador e inclusive seu posto de 1º secretário na mesa diretora da Câmara.

C – Presidente: Darcy Olavo Moldenhauer; Vice-Presidente: Rodolfo Denk; 1º Secretário: Vitor Vidal dos Santos; 2º Secretário: João Wenceslau Pscheidt.

Dia 26 de dezembro de 1965 faleceu inesperadamente o Prefeito Alfredo Diener e, como então não existia o cargo de Vice-Prefeito, assumiu a função de Prefeito o Presidente da Câmara, Darcy Olavo Moldenhauer e seu cargo na Câmara foi ocupado pelo vice desta, Rodolfo Denk.

No dia 24 de janeiro de 1966 a Câmara, em eleição secreta, elegeu o novo Prefeito de São Bento do Sul, Eugênio Estanislau Kurowski, o qual foi solenemente empossado e já no dia 15 de março o Prefeito regularmente eleito, Otair Becker, tomou posse do cargo que o povo lhe deu.

D – Presidente: Ernesto Jorge Diener; Vice-Presidente; Oswaldo Zipperer; 1º Secretário: Vitor Vidal dos Santos; 2º Secretário: Carlos Weiss Sobrinho.

 

Foi este um período terrivelmente agitado

- O caso do avião -

Durante esse tempo caiu o avião em São José dos Pinhais que matou um grande líder de São Bento do Sul e sua esposa, líderes estaduais e até nacionais deixando inquietação nesta comunidade.

- Incêndios -

Grandes incêndios por ocasião de um enorme período de seca se alastraram por localidades paranaenses. Em lugares apropriados as chamas atravessaram o Rio Negro e se aproximaram de Rio Negrinho, São Bento do Sul e Campo Alegre. Estas comunidades se uniram e formaram brigadas para apagar o fogo. Quem não podia ir à linha de frente, fornecia comida preparada e outros apetrechos para ajudar. Não existia então ainda nesses municípios um Corpo de Bombeiros profissionalmente treinado e preparado.

Nas indústrias de móveis, e eram muitas, sempre havia grandes estoques de madeira que secavam expostas ao tempo em pilhas enormes. Era um perigo de fogo em tempo seco em que qualquer faísca era um novo foco de incêndio e havia muitas delas pelos ares em toda região. É por isso que o medo era enorme e todos procuravam tomar o máximo de cuidado.

O Presidente John Kennedy dos Estados Unidos, o Pai da Aliança Para o Progresso que muito ajudou os pobres do Brasil e também desta região, enviou reforços de seu País e imediatamente o fogo foi controlado. Logo depois o Presidente Kennedy foi assassinado nos Estados Unidos.

Como se vivia num período pré-revolucionário descobriu-se, no decorrer dos trabalhos, que havia pessoas que tinham interesse nesses incêndios e assim até os causavam. Houve quem foi preso.

- Um fato curioso –

O Presidente Kennedy já estava morto, o Presidente brasileiro João Goulart já havia fugido do Brasil por causa da Revolução de 1964 e o grande incêndio que até ameaçava a cidade de Curitiba já estava debelado, quando então o Palácio do Planalto em Brasília recebeu uma carta atrasada de John Kennedy, endereçada ao Presidente João Goulart, perguntando sobre o total controle dos incêndios no Brasil.

- O triste período das graves-

Foi a primeira vez que em São Bento do Sul houve greve de operários. Nada de especialmente grave. Houve, contudo, outras questões muito prejudiciais. O grande transporte de pessoas e de produtos ainda era ferroviário e havia frequentes greves neste setor e assim muita coisa na verve vital era paralisada. Mas havia especialmente algo triste: muita boiada era transportada por ferrovia e quando a greve começava os trens simplesmente paravam e boiada morria a mingua presa nos vagões. Isso aconteceu várias vezes em nossa região.

Era um verdadeiro clima de insegurança nacional, também na Marinha Mercante e muitos outros setores.

- A Revolução de 1964 –

Foi um só “vap-te e vup-te”. Em 24 horas tudo estava dominado.  Por uns dois dias, no máximo, dominou um clima de incertezas. Depois tudo estava límpido e claro. Em São Bento o Prefeito e a Câmara de Vereadores reuniram-se em frente à Prefeitura, estiveram presentes escolares e seus professores e algumas outras pessoas, isso dia 31 de março de manhã, para esclareceram, ainda timidamente, o que realmente houve. Lembre-se: por aí ainda não havia televisão, nem rádio local, um só jornal semanal e alguns jornais que vinham de fora. É claro que rádios de fora podiam ser ouvidos.

- A morte do Prefeito –

A morte do Prefeito Alfredo Diener em pleno exercício de seu mandato no dia 26 de dezembro de 1965 por infarto cardíaco fulminante. Era este seu segundo mandato de prefeito. Sofrera todos estes impactos e ainda outros mais como a recente morte de sua esposa.

Mais uma vez a Câmara de Vereadores, como já de tantas outras vezes, teve que postar-se diante desta realidade e assumir o comando real da situação e o fez com total e cabal capacidade política como sempre foi de seu feitio. Parabéns a ela como lídima representante do povo de São Bento do Sul que tem forte influência na região circunvizinha.



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