Lendo a Guemará

Lendo a Guemará, que é uma das partes do Talmude, é possível encontrar várias regras interessantes. Uma delas diz respeito ao fato de se ter que ler a Torá de pé ou sentado. Ali é ensinado que é melhor estudar a Torá de pé. Mas como o corpo do homem foi enfraquecido pelo pecado, pode-se estudá-la mesmo sentado. O Talmude e as orações que nele estão só podem ser lidos em hebraico ou grego. Se alguém não entende uma única palavra de hebraico mas escuta a oração neste idioma cumpriu a sua obrigação de recitar a referida liturgia. Mas o mesmo ensinador que leciona isto diz que só tem valor uma oração se além da dicção ela é devidamente mentalizada por quem a diz ou por quem a ouve. E agora faço a minha colocação: quem lê também tem o dever de mentalizar? Sim, porque quando leio para outros a plenos pulmões cuido só da boa pronúncia e não capto nada o texto para mim. Ou eu bem leio para mim (para dentro) ou eu bem leio para os outros (para fora). Mas o Talmude nada fala sobre isto. Eu precisaria conversar sobre o assunto com um rabino. Quando uma criança ora por um adulto o adulto não cumpriu sua obrigação. Ele mesmo terá de fazer por si ou deverá pedir a outro adulto para que faça por si. O respeito ao sábado é tão grande que não se pode sequer cozinhar no sábado. Outra lei é que não se pode fragmentar o versículo. Esta regra parece ser uma regra natural. É como no mundo da física em que o átomo é a menor das partículas a qual em tese não poderia ser fragmentada em que pese opiniões e experiências em contrário. Outra orientação é a de que não se deve criar apelido para os colegas. Como se vê, esta é uma regra de boa convivência. Parece-nos que atualmente a regra de se ler a Torá apenas em hebraico e grego está superada, do que as traduções são a maior prova. Aliás, há uma edição em inglês muito usada mundialmente do Talmude e hoje há tradução em língua portuguesa. Há regras ainda de que não se deve tocar livros sagrados quando a mulher estiver nos dias de suas regras. E que os livros dos profetas têm peso menor do que a Torá. Inclusive outros livros sagrados que não a Torá não podem ser depositados em cima da Torá. O judaísmo só pode ser totalmente compreendido quando se tenta vivê-lo. É na vivência que surge a dúvida. E para cada dúvida há uma regra para solucionar. Assim, o estar sentado ou de pé pode sugerir que Deus ora estava sentado e ora de pé e que Moisés agia como Deus agia. Ou pode ser que estava encurvado, como querem alguns. O certo é que Deus não está em nenhuma posição humana porque homem não é. Outra dúvida é se um surdo que sabe falar mas não ouve a própria voz se ele cumpriu ou não a obrigação. Não é fácil de ser respondido. Porque nem ele mesmo consegue certificar-se de que realizou a oração. O Talmude vale à pena ser lido. Porque nele encontramos a mais autêntica interpretação filosófica e jurídica do Pentateuco. A razão formal leva o mosaicismo às últimas consequências, o que, no mínimo, merece atenção por curiosidade. É muita minúcia, muito zelo. O Talmude é o trabalho de rabinos que pensam e repensam o sacerdócio e a liturgia. Trabalho belíssimo mesmo. Senão para ser vivido em se tratando de cristãos, ao menos para ser conhecido. A exegese é riquíssima. Para quem é hermeneuta das Escrituras é leitura obrigatória. Impossível não sair enriquecido da leitura do Talmude. Agradeço ao senhor Mariano Soltys que tem realizado a aquisição dos volumes e tem sistematicamente mos emprestado. Deus abençoe a vida deste homem. Uma semana abençoada a todos.