Sofrimento e felicidade

Sou grato aos que me fizeram e que me fazem sofrer. Fazem de mim um ser humano mais paciente e mais forte. Diga-se de passagem, só se perde a paciência quando não se tem a noção de que tudo é batalha espiritual. E os não espirituosos fracassam justamente por não no serem. A felicidade do filósofo, que no fundo é a mesma filosofia do cristão, conquanto Jesus Cristo seja o Logos, ninguém me tira. Ainda que destruam as minhas obras, ainda que queimem o meu corpo. Estou acima destas circunstâncias. Já a felicidade do indivíduo, que nunca tive e não a tenho, ninguém é capaz de me dar. Assim, o que tenho ninguém me tira e o que não tenho ninguém pode me dar. Melhor solução de quem pensa passar, com o tempo, o sofrimento, é acostumar-se a ele. A cruz é a vida inteira enquanto se está preso na empiria. Ser espezinhado e não perder de mira os valores da fé é a grande humilhação que podemos proporcionar ao diabo. O que temos de fazer é abrir a mente. Sim, abrir a mente, não obstante o sofrimento. Não há maior mudança de mentalidade pela qual um ser humano possa passar do que a compreensão do cristianismo. Seguir a Cristo: eis a grande transformação, a grande metamorfose, genuína metanoia. Quando Saul é deposto de sua condição de rei de Israel a ama de Mefibosete, neto de Saul e filho de Jonatas, na pressa, derruba o menino no chão e ele quebra as pernas ficando para todo o sempre aleijado dos pés. Então ele vai morar em Lo-Debar. Lo-Debar era uma cidade marginal onde só habitavam os excluídos e desvalidos. Quando Davi, já devidamente empoderado, pergunta se havia alguém da casa de Saul a quem pudesse honrar lhe respondem: “Há Mefibosete”. Davi lhe devolveu todas as terras que eram de sua família e lhe deu empregados para trabalhar a terra e pelo resto dos seus dias comeu à mesa da Casa Real. Davi honrou Jonatas, na pessoa de seu descendente, porque o referido evitou que seu pai o matasse. Quando Davi fala a Mefibosete “Você comerá à minha mesa” e “dar-lhe-ei tudo o que era de sua família” Mefibosete responde: “Quem sou eu para que Vossa Majestade se recorde de mim, um cão morto?”. E disse isso com o rosto colado no chão. Ou seja, muitas vezes nós somos filho de príncipe e neto de rei e Deus restaura nossa condição e ficamos achando que somos pouca coisa para Deus. Mefibosete tinha em sua mente um pensamento de não ser, de não existir, de não ser ninguém. Todas as pessoas com as quais ele conversava, antes de ser chamado por Davi, eram uma nulidade, ninguém tinha sido nada nem no passado, não no eram no presente e não tinham a mínima perspectiva de o serem no futuro. Deus não quer saber onde nascemos, quem eram nossos ancestrais, se estávamos perdidos no pecado, Ele quer nos restaurar. Creia, irmão, acredite. Jesus Cristo quer colocá-lo num local de honra. Subestimando a glória de Deus que resplandece em você, você está desprezando o próprio Deus. A bênção de Deus não é meia-sola. Ela é abundante, eleva-lhe em dignidade, tira-lhe do lodo e coloca num local de destaque. A bênção já foi dada, só falta que você diga “amém” e dela se aproprie. Não somos donos do mundo, mas somos filhos do dono.