A provação

Eu já dissera aliunde que a prova é para gerar aprovação. E que não é testemunho dizer “passei por isto e mais aquilo”. Testemunho é dizer “passei por isto e mais aquilo e, com tudo isso, aprendi tal e tal coisa”. Mas a provação ainda serve para outra coisa. Para nos sentirmos pequenos e fracos. Porque só Um é grande e forte. E depois quando aquela situação passa não nos conformamos de ter sido tão pequenos e fracos. Então Deus nos dá mais uma chance e manda novamente a prova, e, uma vez mais, somos pequenos e fracos. Somos homens de isopor. Somos frágeis e quebradiços. Não nos conformamos muitas das vezes de sermos do jeito que somos. Queríamos ser fortes, heroicos. Mas tudo não passa de um sonho. Deus quer que tenhamos um coração de carne porque Ele é rocha. Somente Ele é duríssimo. A vantagem de acreditar no mundo espiritual é que temos mais consideração por nossa própria vida. Porque um materialista em situações extremas põe um ponto final em sua vida. Mas o crente sempre faz aposta de que as coisas são passageiras e vão melhorar. A provação faz com que nos sintamos limitados e finitos, para realçar a ilimitude e a infinitude de Deus. Não é por acaso que por vezes o autor do texto bíblico lamenta ter nascido. Às vezes suplicamos para sairmos desta dimensão, querendo desencarnar, tamanhos são o aborrecimento e a infelicidade de estarmos presos ao cárcere da alma. Não tenho dúvida de que a corporeidade é o pior lado de todos os lados. Porque através dela recebemos a maior parte do sofrimento. E muitas vezes passam-se tempos e tempos em que ela não está nem viva e nem morta e a alma agoniza dentro desta cápsula. E o único lado belo disto tudo é a filosofia e o estudo da Palavra de Deus. Porque tanto num como noutro caso o objeto da reflexão não é outro senão o próprio Deus. A irmã gêmea do holocausto somático é a indiferença e a apatia em relação aos atributos positivos que o sacrificado cultiva e que não lhe são creditados por quem quer que seja. No sentido de que há uma positividade em relação ao sofrimento e uma neutralidade naquilo que seria digno de encômio. Também isto provém de Deus, porque se gostamos de receber comendas precisamos nos recordar que todo o louvor que sai de nossa alma para Deus é pouco quando o que está em pauta é a grandeza mesma de Deus.